Testemunho de um médico...



A vida orientou-me de, forma algo fortuita, para uma actividade na área da saúde que, progressivamente, tem sido complementada com um agradável e estimulante percurso paralelo na investigação e no ensino. 

Uma formação científica muito especializada não obstou a um constante e irresistível apelo cultural, que se estende a plataformas diversificadas do conhecimento na sempre vã procura da compreensão da mecânica palpitante e evanescente do eterno universal. Vários anos de um percurso com tal multiplicidade de interesses, para além de necessariamente aflorarem a ciência, a literatura a história e a filosofia, tiveram, inevitavelmente, de colidir com a religião. Neste contexto, apesar de uma educação católica tradicional, não resisti à curiosidade de um incipiente contacto com muitos dos paradoxalmente edificantes e tortuosos roteiros para a Eternidade. 
O Espiritismo constituiu um dos incontornáveis contactos fugazes, surgido, curiosamente, numa idade muito precoce. Nessa época distante, a leitura superficial do “Livro dos Espíritos” suscitou-me sensações contraditórias, uma amálgama de interesse e decepção, fruto de uma teorização demasiado lógica para uma tenra consciência em busca de um imaginário mais densamente esotérico. O segundo contacto ocorreu há cerca de 10 anos numa das minhas frequentes deambulações em Paris… ao visitar o cemitério de Père-Lachaise, um dos míticos e obrigatórios locais turísticos dessa magnifica cidade… deparei-me, a uma curta distância, com um mausoléu profusamente florido e intensamente frequentado que prendeu toda a minha atenção. Dirigi-me ao local e verifiquei tratar-se do tumulo de Allan Kardek, o autor do livro que muitos anos atrás tinha vorazmente consumido e cujo nome, na verdade, constituía o pseudónimo de um importante cientista do século XIX…
Recentemente, num misto de casualidade e tormenta existencial, deparei-me com uma casa Espírita e, vencendo um natural receio e relutância instintiva, fui observar as actividades aí decorrentes, retomando seguidamente a leitura há longo tempo aprazada. A excelência das palestras auscultadas e o seu conteúdo fortemente erudito e científico acicataram o meu interesse, iniciando uma leitura mais abrangente, não confinada às obras de Alan Kardec, procurando documentos mais recentes, incidindo em temáticas de confluência entre a religião, a física, a astronomia e a história. Cada obra lida sedimentou uma perplexidade crescente, pela qualidade técnica, pelas metodologias, pela discussão, pela análise critica e, sobretudo, pela referência à sua autoria, invariavelmente atribuída a espíritos.
Poucos meses volvidos sobre esta estimulante incursão exploratória, fui convidado para assistir a um seminário espírita sobre “Medicina da Alma”, proferido por um colega brasileiro de profissão e especialidade…
Este foi o meu primeiro contacto com o Dr. Sérgio Thiesen… um académico, com uma intensa actividade diária como cardiologista…igualmente licenciado em Física, o que lhe proporciona uma complementaridade de formação indispensável a uma transversalidade de integração científica pouco comum. Presentemente desenvolve intensa actividade de investigação segundo metodologias emanadas da doutrina espírita em várias vertentes da patologia médica…
Durante os dois períodos referenciados foi extensamente abordada a surpreendente problemática da “Medicina da Alma” e enunciadas algumas das técnicas desenvolvidas para a sua aplicação. Da explanação teórica e prática retirei uma conceptualização muito consistente sobre o que poderemos designar, à luz da nossa terminologia médica, a fisiologia e fisiopatologia do Espírito bem como a adaptabilidade de algumas das metodologias propostas a alvos terapêuticos específicos, em complementaridade com a actuação da Medicina convencional.
Naturalmente que as enormes potencialidades destes recursos terapêuticos colidem com uma postura científica conservadora, sendo o seu impacto mitigado pela dificuldade na objectivação da entidade essencial considerada - o espírito – usualmente remetido para a estrita esfera da abstracção religiosa. 
A História tem sido pródiga em exemplos de heresia científica que, com o tempo e a evolução tecnológica, se relevaram realidades tão pungentes que volvido algum tempo qualquer criança as considera triviais. Se no futuro próximo forem desenvolvidas consistentes metodologias de análise que revelem áreas de intervenção paralelas para determinadas patologias, certamente que serão investigados e encontrados tratamentos alternativos aos actuais, mas adequados a uma eventual realidade entretanto desconhecida… Na actualidade a grande revolução esperada na Medicina reside nesta Genética cuja utilidade se expressa em novas aplicações descobertas quase diariamente. Será a “Medicina da Alma ou do Espírito” a revolução que se segue?

João Maldonado – Cardiologista - Coimbra, Portugal
(Retirado do “Jornal de Espiritismo” nº 20, Jan / Fev 2007, http://www.adeportugal.org/)

Reportagens
dezembro 02, 2009
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Comentários

  1. Testemunho muito interessante e , vindo da parte da um médico, portanto , uma pessoa com uma cultura acima da média, nos ajuda a demonstrar aos que nos querem confundir, que o Espiritismo é algo que nos interessa a todos, os mais cultos e os menos cultos,e que quem ainda não conhece as suas bases e a sua filosofia, deve pelo menos respeitá-lo e igualmente respeitar todos os que o aceitam , e o estudam.
    Maria Tereza

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  2. estou de acordo e para isso considero necessário uma "abertura de espirita" da ciência medica, mas ainda temos um longo caminho a percorrer pois existem muitos dinossauros a ministrar a medicina

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