Hoje, não falemos nisso...



O dia decorria naturalmente, embora já envolto no ar das festividades do Natal. A atmosfera de leveza já pairava no ambiente, notava-se pelo ar descontraído das pessoas, a maneira como sorriam, falavam. Esse é um dos encantos do Natal.

Numa situação de trabalho, um colega nosso falava de uma determinada peripécia do quotidiano profissional, ao qual objectamos que não deveríamos dar tanta importância ao facto em epígrafe, pois que não era assim tão importante. Recebi uma resposta curiosa. Dizia o meu interlocutor: «Pois é, é melhor não me aborrecer com isso, agora é Natal, depois logo se vê essa situação».
Fiquei a pensar com os meus botões: e se fosse sempre Natal? Esse meu colega jamais teria a oportunidade de se aborrecer com a situação que o apoquentava e não teria o ensejo de o postergar para uma temporada menos natalícia.
E fiquei a meditar em torno dos ensinamentos que os Espíritos nos deixam não só nas reuniões de intercâmbio espiritual, semanais, as chamadas reuniões espíritas, como também nos ensinamentos que os Espíritos deixaram através das obras publicadas por Allan Kardec, explicando ao homem quem ele é, de onde vem e para onde vai.
Aprendemos com a doutrina espírita que somos seres imortais, o espiritismo comprova-o através da comunicabilidade dos espíritos; aprendemos com a doutrina espírita a pluralidade das existências ou a reencarnação, bem como a lei de causa e efeito, que faz com que as vidas sucessivas se interliguem umas às outras, onde por vezes colhemos numa existência causas semeadas numa outra anterior, factos estes hoje bem documentados pela ciência médica nomeadamente a moderna psiquiatria; aprendemos com a doutrina espírita (ou espiritismo) que o planeta Terra é apenas mais uma escola, onde estamos em regime de aprendizagem e que um dia demandaremos a outros planetas mais evoluídos onde a felicidade estará ao nosso alcance, quando formos espíritos mais felizes, mais evoluídos, fruto do labor incessante ao longo das várias reencarnações.

«Fora da caridade não há salvação», é o lema
que a Doutrina Espírita (ou Espiritismo) nos deixa

E começamos a antever como será a vida nesses mundos felizes, onde os seres inteligentes já não cogitarão de deixar os maus momentos para depois, uma vez que aproveitarão todos os momentos para obrar no bem, serem benevolentes para com todos e emprestar a cada acção todo o seu amor, dedicação e empenho fraterno, desinteresse pessoal.
Quando chegarmos aí, já não necessitaremos de dizer «Hoje não falemos nisso…» pois que o amor ao próximo será uma constante, a marcar o nosso quotidiano, os nossos pensamentos, as nossas acções. Poderemos dizer que nos mundos felizes é sempre Natal, nos corações dos seres que aí aportam.
No entanto, Jesus de Nazaré deixou-nos há dois mil anos um roteiro de paz, de felicidade, que teimamos em não colocar em prática, e de duas uma, ou nós somos muito teimosos ou Jesus foi um hipócrita ao deixar-nos algo de inatingível. Preferimos ficar pela primeira hipótese, onde o homem, cego pela sua miopia espiritual, continua a investir no desamor em vez de semear o amor, continua a apostar no ódio, na guerra, em vez de trilhar os caminhos da paz, continua a preferir o egoísmo, a satisfação pessoal a qualquer custo, ao invés de partilhar e fraternalmente colaborar com o próximo.
Afinal, somos os senhores do nosso destino e se os desatinos ainda dominam o nosso modus vivendi é porque ainda não tivemos a coragem moral de enveredar pelos caminhos preconizados por Jesus de Nazaré há dois mil anos.

De nada nos adianta desejar Bom Natal e Feliz Ano Novo se continuarmos
nas nossas atitudes egocentristas, orgulhosas, belicosas

Como será a vida um dia, quando políticos e dirigidos assim procederem, quando dirigentes nacionais proliferarem medidas de apoio mútuo em vez de actos de guerra, quando os interesses financeiros de grupos multinacionais derem lugar aos interesses de grupo no sentido de melhorar as condições de vida no planeta Terra, como uma grande nave espacial que deve navegar em paz pelo cosmos fora?!!!
De nada nos adianta desejar bom Natal e feliz ano novo se continuarmos nas nossas atitudes egocentristas, orgulhosas, belicosas.
Como ser feliz, como ter um melhor ano se não mudarmos de atitude perante a vida?
Esse é o grande alerta que a espiritualidade constantemente nos lança, através de múltiplos médiuns um pouco por todo o mundo, em grupos espíritas que laboram com total desinteresse material: fora da caridade não há salvação, isto é, se o homem não enveredar pelos caminhos da fraternidade, auxílio mútuo desinteressado, o homem não evoluirá espiritualmente, permanecendo estagnado e assim gerando fontes de sofrimento para si, como portas que se abrem para dias melhores em busca de momentos de paz que nos tranquilizem.


Artigos diversos
dezembro 07, 2009
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