Jornal de Espiritismo - Tem alguma experiência com a TCI, agora?
Padre François Brune – Nunca fiz nenhuma tentativa para receber, eu próprio, as vozes através da TCI. Mas assisti, frequentemente, a pesquisas feitas e estive muitas vezes presente quando as vozes se manifestaram por magnetofone (gravador) e tive também a ocasião, em Grosseto, Itália, com Marcelo Bacci, de falar directamente com uma entidade, através do altifalante de um aparelho de rádio.
JDE – Conheço bem o seu livro “Os Mortos nos Falam” e um outro escrito em parceria com um professor da Sorbonne, Rémy Chauvin.
PB – Sim, “Linha Directa do Além” (“À l’ Écoute de l’Au-delá”). Há também uma tradução em castelhano.
JDE – E tem também uma em português… Quem é que se comunica através dos médiuns, sejam eles humanos ou pela TCI? São pessoas falecidas?
PB – Penso que a maior parte das vezes comunicamos com os mortos, que vivem agora numa outra dimensão. Mas por vezes temos tido contactos também com extra-terrestres, creio eu, até porque muitos pesquisadores o afirmam. Parece-me também possível o contacto com energias, simplesmente, como por exemplo no caso de Manfred Boden.
JDE – Vou fazer-lhe uma pergunta que poderá parecer provocatória: não será um paradoxo para um padre católico, em que a Igreja Católica acredita que Jesus se fez homem para salvar a Humanidade? Ora se há Humanidade ou seres inteligentes noutros planetas, é porque a Humanidade não está só na Terra. Como fica então a teologia católica?
PB – Para mim, isso não é nenhum problema, pois não posso falar em nome da teologia católica, até porque não há sobre isso qualquer posição oficial. Apenas posso dar a minha opinião pessoal. O que penso é que todos esses planetas, todos esses mundos, todos esses seres inteligentes, foram criados pelo mesmo Deus – não há outro – e foram também criados pelo amor e, provavelmente, eles conheceram o mesmo drama da liberdade. Tenho mesmo tendência a crer que o Filho de Deus reencarnou em cada um destes mundos e que foi certamente recebido da mesma forma triunfante como o foi na Terra. Além disso há mesmo alguns textos que parecem vir desses mundos e que afirmam isso. Tal corresponde um pouco também ao que já diziam os padres gregos nos primeiros séculos do Cristianismo: segundo a categoria da época, o Filho de Deus fez-se Homem com os Homens, Anjo com os Anjos, Arcanjo com os Arcanjos, Querubim com os Querubins e Serafim com os Serafins… É um pouco a mesma ideia, afinal!
JDE – Serão necessários novos paradigmas para que a Ciência descubra o Espírito?
PB – Sim, creio que a Ciência deve adaptar-se a uma realidade que lhe escapa neste momento. Podemos fazer uma comparação: se eu for à pesca, para apanhar peixes tenho de lançar a linha e tenho de a adaptar à posição do peixe. Não posso pedir ao peixe que siga o atalho que corresponde à posição da linha! As linhas são as teorias científicas para “apanhar” a realidade. Se conservo essa mesma linha, nunca conseguirei “apanhar” a tal realidade que me escapa. É pois necessário que a Ciência aceite mudar esses paradigmas, para se adaptar a novos níveis de realidade que de momento, repito, lhe escapam.
JDE – É verdade que no Vaticano há padres cientistas que pesquisam esta área?
PB – Sim, tenho a certeza que existe uma pequena equipa, composta de dois ou três padres, que estão ao corrente e que conhecem estes fenómenos. Se fazem eles próprios as pesquisas, isso já não sei. Havia o padre Andreash Resh, que criou um Instituto de Parapsicologia, o “Instituts für Grenzgebiete der Wissenschaft” –IGW- “, em Innsbruck. Ele ensinou durante muitos anos os fenómenos paranormais num Instituto que dependia da Universidade Pontifical de Latrão. Ele abandonou esses cursos para se dedicar, agora, a outros trabalhos. Mas contou-me que, por vezes, alguns cardeais lhe chegaram a pedir se não poderiam obter quaisquer comunicações, por exemplo, das suas mães (risos).
JDE – A prova científica da imortalidade será considerada uma revolução para a humanidade, como o foi a Revolução Industrial?
PB – Sim, normalmente deveria ser até uma revolução ainda maior, mas nunca será assim, sabe? Na Idade Média, no Ocidente, todos ou quase todos acreditavam na vida eterna. E não se tornaram santos por causa disso! Continuou a haver criminosos, havia homens cheios de orgulho, homens ávidos de poder, de dinheiro… Essa verdade não fez o mundo mudar muito! Actualmente, cremos menos na vida eterna e estamos talvez mais em risco de nos tornarmos “monstros”, mas não bastará “encontrar” a vida eterna para que todos se tornem “santos”.
JDE – Dos casos que conhece, que objectivos têm os espíritos, as pessoas falecidas, que se comunicam através da TCI ou dos médiuns? O que dizem eles?
PB – Dois motivos fundamentais: o primeiro é o de consolar os seres queridos que deixaram na Terra e que se encontram, muitas vezes, desesperados; o segundo é o de confirmar que a vida continua imediatamente após a morte, que Deus existe – dizem-no frequentemente – que nos espera, que nos criou por amor e que todo o sentido da nossa vida na Terra é o de crescer nesse Amor!
JDE – Que outros cientistas conhece que estejam a pesquisar esta área da comunicabilidade com o mundo espiritual?
PB – Há muito já, actualmente! Há o Sinesio Darnell, em Espanha, o Prof. Senkowski, o Hans Otto König, temos também, na Itália, o Daniele Gullà, o Paolo Presi e ainda mais, no Brasil, em França… Infelizmente, não há um nível científico muito elevado, em França, nesse campo. Seria preciso muito mais. Creio que o melhor trabalho está a ser feito, actualmente, em Itália. Houve resultados extraordinários com Adolf Holmes, na Alemanha, mas esse não eram um pesquisador, era alguém que recebia uma grande quantidade de mensagens, de comunicações, mão que não tinha formação científica para fazer pesquisas. No Luxemburgo, igualmente, o casal Julles e Maggy obtiveram numerosas e magníficas comunicações, mas não possuíam os meios intelectuais e laboratoriais para realizar essas pesquisas. Da mesma forma, o alemão Klaus Schreiber, falecido recentemente, não tinha os meios necessários para a pesquisa científica. Há muito poucos cientistas interessados nestes fenómenos, infelizmente muito poucos, mesmo…
JDE – Mas as experiências são válidas, não são?
PB – Sem dúvida, tudo isso não impede que os resultados obtidos sejam extraordinários, nem entendido. Conheci muito bem o casal Julles e Maggy, conheci também Adolf Holmes, pessoalmente e sei que não existe qualquer espécie de fraude! Assisti a algumas experiências com ele, com o casal que já referi, no Luxemburgo, e com Marcelo Bacci também! Bacci não tem formação científica e, no entanto, consegue resultados extraordinários… só que não consegue prosseguir os estudos!
JDE – Tem alguma mensagem que queira transmitir aos Espíritas Portugueses, ou aos Portugueses, em geral?
PB – Gostaria que continuassem a trabalhar neste sentido. Que continuem a progredir no Amor, cada um na sua vida, porque estamos na Terra para aprender a amar. Que utilizem estes meios de comunicação com o além para confortarem a sua fé e mesmo a fé cristã, apesar do estado catastrófico em que se encontra a Igreja. Esta Igreja que não é fiel à mensagem do Cristo, mas esperemos que um dia se renove, é preciso que se trabalhe para isso… Mas, principalmente, é necessário conservar a fé, a fé cristã…!
Entrevista: ADEP
Fotografia: Ulisses Lopes
Tradução: Sílvia Antunes
II Congresso Internacional sobre a “INVESTIGAÇÃO ACTUAL DA SOBREVIVÊNCIA À MORTE FÍSICA COM ESPECIAL REFERÊNCIA À TRANSCOMUNICAÇÃO INSTRUMENTAL (TCI)” - 2006, Vigo, Espanha
Biografia
Padre François Charles Antoine Brune
Teólogo e especialista em misticismo oriental e ocidental. Desde há muitos anos é considerado um observador atento da investigação psíquica (desde 1987) e da TCI.
Conferencista muito apreciado por estes e outros temas afins. É autor de muitos livros, entre os quais se encontram: "Os Mortos nos Falam” e “Linha Directa do Além”.
O Padre François Brune obteve os diplomas de Latim, Grego e Filosofia do ensino secundário. Após quatro anos na Sorbonne, diplomou-se em Latim e Grego, tendo feito cinco anos de estudos de pós-graduação em Filosofia e Teologia, no Instituto Católico de Paris e um ano adicional na Universidade de Tuebingen, na Alemanha. Possui os mais altos graus de Teologia, Grego e Hebraico Bíblico, e Hieróglifos Egípcios e Babilónicos da Assíria. Tem também a pós-graduação em Escrituras Sagradas, do Instituto Bíblico de Roma.
O Padre Brune ordenou-se sacerdote em 1960. É autor de numerosas publicações eruditas e de vários livros sobre assuntos teológicos e sobre fenómenos paranormais, com especial referência para a sobrevivência após a morte e a comunicação com os mortos.
"Pour que L'homme Devienne Dieu", Editions Dangles, nouvelle édition 1992
"Christ et Karma", Editions Dangles, 1995
"Les Miracles et Autres Prodiges", Editions Philippe Lebaud/ OXUS, 2000
"La Vierge du Mexique", Editions Le jardin des livres, 2002
"Saint Paul, Témoin Mystique", OXUS, 2003
"Les Morts Nous Parlent", Philippe Lebaud/OXUS, nouvelle édition 1996
"A L'écoute de L'au-Delà" (with Professor Rémy Chauvin) OXUS, 2003
"Le Nouveau Mystère du Vatican", Editions Albin Michel, 2002
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dezembro 02, 2009
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