Que os transplantes salvam vidas, já todos sabemos. Que a doação de órgãos é um acto de altruísmo, também. Abordámos na semana passada esta temática. Vamos ver pois, o que pensa deste assunto uma personalidade do movimento espírita mundial, Divaldo Pereira Franco, conferencista de renome.
Divaldo Franco, conferencista de renome mundial, um dos maiores divulgadores do espiritismo pelos quatro cantos do mundo, e internacionalmente respeitado, esteve entre nós em Dezembro passado (1994). Aproveitámos para uma pequena conversa de onde ressaltaram comentários relativos à doação de órgãos. Vejamos pois a sua opinião, dentro dos horizontes que o espiritismo nos abre.
José Lucas - No que respeita à doação de órgãos, existe incompatibilidade perispiritual, isto é, entre o corpo espiritual do falecido e o daquele que recebe o órgão?
Divaldo Franco - Na realidade não, porque o perispírito (corpo espiritual) receptor consegue adaptar as futuras células à sua própria organização. Muitas vezes, quando ocorre a rejeição, estamos diante da Lei do Carma, que funciona biologicamente, pois, se assim não fosse, a continuidadde dos transplantes daria ao indivíduo a vida imortal na Terra, o que não é possível.
JL - Então a rejeição que existe é apenas física?
DF - Exactamente, é física, graças à necessidade da desencarnação (falecimento) do paciente, já que ninguém consegue ludibriar as leis divinas. O êxito, neste campo, invariavelmente, trata-se de uma moratória que a divindade permite seja dada ao receptor, a fim de prolongar a existência com finalidades nobres.
JL - O espírito desencarnado (falecido) que ainda está ligado ao corpo (cadáver), sofre com a extracção dos órgãos, poderá ficar ressentido por fazerem isso ao “seu” corpo e envidar por uma perseguição?
DF - Na realidade não, porque aí entram as leis soberanas da misericórdia divina. Consideremos no passado, os cadáveres de mendigos que eram levados para as faculdades de medicina, a fim de facultarem aos estudantes o conhecimento dos órgãos e as melhores técnicas cirúrgicas para o prolongamento da vida. Aqueles cadáveres, eram de pessoas desconhecidas, invariavelmente, que se transformavam sem quererem, em benfeitores da humanidade. No caso da pessoa ser forçada a doar os órgãos, isto pode produzir-lhe um choque emocional, não contra quem vai receber, mas, contra as leis, entrando inevitavelmente num bloqueio de consciência, e, pelo bem que vai fazer, mesmo sem o querer, recebe os frutos sempre que necessite desses benefícios que se transformam, para ele, em verdadeira graça de Deus. Só o facto de oferecer órgão saudáveis a pessoas que estariam a encerrar a sua jornada terrena, já os faz dignos do amparo divino.
Quanto a sentir dores, a acompanhar o processo de sofrimento, é inevitável, tal como aconteceria também na inumação cadavérica, em que ficaria a acompanhar a disjunção molecular, ou na cremação, com o pavor, porque as sensações permanecem. É o que Kardec examina em “O Livro dos Espíritos” quando aborda a perturbação espiritual.
JL - No caso das autópsias, o espírito também sofre?
DF - Muitos sofrem. Os sensualistas, os escravos dos prazeres terrestres, sentindo ainda os fluidos materiais, acompanham com horror as cenas, especialmente quando as autópsias são feitas num clima de ironia, de ridículo, de desrespeito pelo ser, por consequência, de desrespeito pelo cadáver. Os espíritos a eles vinculados, agridem-se e agridem, desesperam-se e enlouquecem de dor, o que lhes aumenta por consequência o sofrimento.
Muito mais havria a dizer sobre esta temática. No entanto, para uma melhor compreensão deste assunto remetemos o leitor para “O Livro dos Espíritos” e “O Céu e o Inferno” , ambos de Allan Kardec, que poderão encontrar nas principais livrarias do país.
Portugal, 1994
Artigos relacionados
Entrevistas
dezembro 07, 2009
0
Comentários
Enviar um comentário