Raul Teixeira: ciência e espiritismo




Físico, é espírita, e também é médium. Destaca-se pelo seu papel de divulgador do espiritismo pelos quatro cantos do mundo, onde tem conferenciado. Chama-se José Raul Teixeira, professor universitário, esteve entre nós aquando do II Congresso Nacional de Espiritismo, como convidado especial da Federação Espírita Portuguesa (FEP).Tem vários livros psicografados (ditados pelos espíritos). Deixou-nos importante depoimento. Ora vejamos!

José Lucas - Porque é que o espiritismo é uma ciência?
Raul Teixeira - O espiritismo é uma ciência, em função da metodologia adoptada por Allan Kardec. Sempre que alguém trabalha um conceito, estruturado sobre uma metodologia científica qualquer, esse trabalho tem basicamente estrutura científica. Allan Kardec através do tipo de questões que levantou, tipo de análise que apresentou, observação que desenvolveu, deu ao espiritismo um carácter eminentemente científico. Não como ela (ciência) é entendida hoje, dentro de uma visão eminentemente laboratorial, mas, o laboratório de que ele se utilizou foram as reuniões de carácter mediúnico, com o seu poder profundo de observação - era um homem acostumado às reflexões da ciência e aos seus processos - deu à proposta espírita uma dinâmica de carácter científico.

JL - O método da ciência oficial é o único aceitável para a busca do conhecimento?
RT - Hoje em dia, não. Inclusive, não são poucos os filósofos, os cientistas, que estão discutindo essa questão. Não se pode falar de uma metodologia que sirva a todas as ciências. Existem várias metodologias conforme as propostas científicas que estejam em causa.

JL - A reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados são dogmas?
RT - Se penetrarmos um pouco na filosofia, entendemos que a palavra dogma aparece no sentido técnico do termo. Dogma é um ponto de fé ou de referência de alguma doutrina, é um ponto base, de apoio de uma doutrina, seja ela filosófica, científica ou religiosa. A ciência tem os seus dogmas, os mais variados. As filosofias têm os seus dogmas, porque partem de certos pontos que por mais que sejam discutidos não são derrubados. Assim também a doutrina espírita tem os seus dogmas. A reencarnação é um dogma, mas não um dogma teológico, não é um dogma que não se possa discutir, não é um dogma que seja palavra acabada, fechada, concluida. A reencarnação é um dogma espírita porque é um dos seus pontos base, é um dos seus fundamentos. Mas, o espiritismo não é de maneira nenhuma uma doutrina dogmática, no sentido que esta palavra passou a tomar com o surgimento do dogmatismo no século IV. Não se pode confundir um dogma - princípio de uma doutrina, filosofia ou ciência - com o dogmatismo, que é um sistema teológico a partir do qual os indivíduos não podem discutir aquilo que os seus superiores hierárquicos estabelecem. A Santíssima Trindade, por mais que ninguém entenda o que significa ou como se dá, isso é um dogma, porque não se pode discutir. Quando se estabelece, por exemplo o dogma da transubstanciação, o corpo de Deus na hóstia consagrada, por mais que isso se torne aberrante para a lucidez de uma criatura, para o intelecto dos indivíduos, isso não se pode discutir, porque é um dogma. Bem diferente da reencarnação, que pelo contrário, a doutrina espírita e os espíritos abrem à discussão, propondo que seja discutida, trazendo novas questões para serem abordadas. Não podemos misturar o dogma - estrutura básica - com o dogmatismo, que é um contexto eminentemente clerical, que não pode ser discutido.

JL - E no que respeita à pluralidade dos mundos habitados?
RT - Basta que leiamos o notável livro do Dr. Fred Hoyle astrofísico e biólogo inglês, “O Universo Inteligente”. Ele estuda os dados colhidos para além do nosso planeta Terra e, através das mais variadas análises chega à conclusão da existência de substâncias orgânicas para além do nosso sistema solar. Ele chama a essa molécula, descoberta para além do nosso sistema, molécula de cianotriacetileno. Ele afirma que ela tem uma estrutura da molécula da proteína.O Dr Fred Hoyle - que não é espírita - afirma que ao encontrar-se essa porção orgânica para além do nosso sitema solar, não se pode discutir ou duvidar da existência ou da possibilidade de existência de vida organizada para além do nosso sistema solar. Quando encontramos diversas academias a mandar construir uma gigantesca antena parabólica para captar sinais de outras constelações, de outros pontos do universo conhecido, naturalmente essa questão extrapola o capítulo da fé e vai para as áreas da ciência. A questão da pluralidade dos mundos habitados, hoje em dia, é investigada pela ciência, cujas conclusões ou respostas definitivas a ciência há-de apresentar um dia.

Existe uma ciência espírita, com uma metodologia de ciência,
calcada nas questões espirituais

JL - Em que aspecto é que a Física actual se entrosa com o espiritismo?
RT - Ao demonstrar o mundo das energias, ao levar-nos à conclusão de que vivemos num mundo energético e não num mundo de matéria, no sentido grosseiro do termo, a Física tem dado ao mundo espírita uma das maiores contribuições que nós podemos admitir. Cada dia que passa, quando os físicos mergulham na micro-física e vão descobrindo partículas cada vez menores e que cabem milhares de vezes dentro de outras que nós supunhamos já indivisíveis, vamos marchando para o encontro da energia espiritual, da energia do espírito propriamente dito. Aliás, já tinha sido dada a Allan Kardec a resposta, em “O Livro dos Espíritos”, de que a matéria ainda seria encontrada em estágios e em estados completamente ignorados pelo homem do século passado. Começamos com o notável William Crookes descobrindo o quarto estado da matéria, o estado radiante, e marchamos para a decomposição, cada dia maior, cada dia mais intensa, da matéria em si mesma e, por isso, descobrindo estados dos mais variados dessa mesma matéria. Dizer que nós vivemos num mundo material, hoje em dia é simplesmente uma força de expressão, pois vivemos num mundo eminentemente energético, já o dizia Einstein, e hoje nós estamos a obter comprovações bastante importantes por parte dos cientistas contemporâneos. A Física tem dado ao espiritismo, ainda que os físicos de tal não se apercebam, uma contribuição gigantesca na confirmação dos postulados espíritas, que de maneira nenhuma nós, os espíritas, poderemos subestimar.

Portugal, 2002

Entrevistas
dezembro 07, 2009
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