Divaldo Franco responde





Divaldo Pereira Franco, o maior orador espírita contemporâneo, é figura de destaque a nível mundial, seja no meio espírita, seja fora dele. A sua cultura, o seu saber bem como a sua mediunidade (tem mais de cem livros psicografados - ditados pelos espíritos - cujas receitas revertem integralmente para auxiliar os meninos da rua) são os cartões de visita que lhe granjeiam respeito e credibilidade. Mais de 50 anos ao serviço do próximo fazem dele um foco de atenção, mesmo por parte dos cépticos. Em entrevista que nos concedeu, aborda questões cruciais.

JCL - As mortes aparentes têm alguma relação com o espiritismo, nomeadamente as mundialmente conhecidas , estudadas pelo Dr Moody Jr?
DPF - Essas mortes aparentes sempre ocorreram, principalmente no passado quando os estados catalépticos eram dificilmente diagnosticados. A técnica de diagnóstico da morte era muito empírica, normalmente através da respiração e dos batimentos cardíacos. Hoje, graças ao electroencefalógrafo, pode-se detectar com maior profundidade ,o momento da paragem cardíaca definitiva e da morte real. No entanto, mesmo nesses casos, estudados por Edith Fiore, Elizabeth Kubler-Ross ou Raymond Moody Jr, há sempre o retorno à actividade do coração e consequentemente do cérebro, oferecendo evidências de que no momento da aparente morte da consciência, o ser consciente continua pensando. É dentre as muitas evidências da sobrevivência da alma uma das mais fascinantes, mesmo porque as experiências do Dr Moody Jr, psiquiatra, filósofo, que vem estudando o assunto há mais de 25 anos, ofereceram documentação valiosíssima, variadíssima, toda calcada na imortalidade da alma.

JCL - Tem alguma experiência de morte aparente?
DPF - No ano de 1985 eu tive uma lipotímia. Estava a proferir uma conferência, na nossa associação, em Salvador (Brasil) quando um espírito disse-me, um espírito muito amigo, para sair dali porque ia desmaiar e era provável que morresse. Pareceu-me anedótico. Terminei a palestra e dirigi-me a uma das nossas salas, na nossa sede. No momento em que me acercava de um divã, tive uma estranha sensação de paragem cardíaca, a princípio a lipotímia e depois a paragem cardíaca, e, senti-me fora do corpo. Então, um filho médico, a nossa enfermeira universitária e mais dois médicos que estavam presentes na reunião acorreram para me darem assistência. Curiosamente, eu senti um grande bem-estar. Vi-me fora do corpo e recordei-me de uma afirmação de Joanna de Ângelis (guia espiritual de Divaldo Franco) que me havia dito que no dia em que eu perdesse a consciência e a visse, havia acontecido o fenómeno biológico da morte. Eu olhei à minha volta e não a vi. Vi então a minha mãe, que se aproximou de mim. Perguntei-lhe: "Mãe, eu já morri?" e ela disse-me: " Ainda não". Dentro de alguns minutos eu comecei a preocupar-me, pois se passasse muito tempo poderia ter a morte cerebral e ficar apenas em vida vegetativa. Mas, minha mãe, voltou e disse-me: "Seus amigos espirituais dão-te uma moratória, tu viverás um pouco mais." E eu perguntei-lhe: "Quanto tempo"? Ela respondeu-me: "Não sei". Então, voltei ao corpo.

JCL - O Espiritismo é cultura?
DPF - O espiritismo é, quiçá, a doutrina mais complexa e completa, de que tenho, pessoalmente, conhecimento. È uma doutrina simples, embora não seja de fácil assimilação. Exige reflexão, exige profunda entrega e acima de tudo, discernimento, o que não quer dizer que as pessoas modestas culturalmente não possam ser espíritas. Recordemos que Jesus convidou, na Galileia, homens simples e ignorantes, mas não espíritos atrasados e destituídos do saber. O Espiritismo, repetindo o cristianismo, vem convidar as massas, e vai oferecer discernimento. Tenho como exemplo, minha mãe, que era analfabeta, no entanto dotada de uma lucidez intelectual fascinante, que absorveu a doutrina espírita com imensa facilidade. O espiritismo é cultural, porque responde a todas as incógnitas do conhecimento. Uma pessoa portadora de fé espontânea, natural, não necessita de grandes interrogações e contenta-se com a parte consoladora do espiritismo. Mas, o homem do gabinete, de investigação científica, cheio de dúvidas, aflito por inquietações atormentantes, vai encontrar no espiritismo as respostas para as causas de todos os efeitos que ele estuda. O pensador, que traz no âmago os conflitos, que vive padecendo as interrogações não respondidas pelos séculos, vai encontrar na filosofia espírita todas as clarificações indispensáveis para ter a sua plenitude. Então, o espiritismo é uma doutrina de cultura. Até à vista, Allan Kardec no-la apresentou dentro da metodologia dialéctica, como ninguém o fez até hoje, a mais profunda e a mais sábia.

JCL - Numa reunião de desobsessão o paciente deve estar ausente?
DPF - Sem dúvida nenhuma. Ele não tem a menor condição de ali estar.
Kardec recomenda a sessão espírita séria, com pessoas responsáveis, que se conheçam entre si e que conheçam bem a doutrina espírita. Como pode o paciente, com tormentos físicos ou psíquicos participar de uma experiência de profundidade tão rica de delicadezas?

JCL - Qual a actualidade do espiritismo?
DPF - Enfrentar a razão face a face nesta época de misérias morais e de dificuldades de afirmação de comportamentos filosóficos e científicos.

JCL - O que os espíritos benfeitores dizem do porvir, já que o mundo está virado do avesso?
DPF - Eles são optimistas. Este é o momento da grande transição em que a Terra deixará de ser um mundo de provas para passar a ser um mundo de regeneração. Kardec fazendo análise do período de luta, na "Revista Espírita", diz que este é o quinto período, é o período que seria nomeado de intermediário. O sexto período será o da renovação social. Quando nos amarmos como verdadeiros irmãos a dor lentamente baterá em retirada por desnecessidade evolutiva.

Portugal, 1997

Entrevistas
dezembro 02, 2009
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