Qual é o partido dos espíritas?

Temo-nos apercebido de algumas dificuldades apresentadas, por alguns espíritas, em lidar com opiniões diferentes, o que, aparentemente, é um paradoxo.
No nosso quotidiano, temos, inclusive, pessoas que nos questionam acerca da nossa maneira de procedermos, como Ser social, apenas porque somos espíritas.  

1 – O que é o Espiritismo?
Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, no seu livro “O que é o Espiritismo” define-o como “a ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal”.
No Espiritismo não existem chefias, líderes, paramentos, rituais.
Nenhuma entidade pública ou privada pode outorgar-se o direito de falar em nome do Espiritismo.
Somos livres pensadores.

 2 – O espírita não se mete em política?
Muitos espíritas acham que os seus pares, os outros espíritas, não se devem meter em política e, criticam, mesmo quem o faz.
Encontramos na Wikipédia, a definição de política: “O termo política é derivado do grego antigo πολιτεία (politeía), que indicava todos os procedimentos relativos à Pólis, ou cidade-Estado grega. Por extensão, poderia significar tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana.”
Ora, o espírita como Ser social, não só tem o direito como tem o dever de se inserir na organização social, sendo activo na prossecução de objectivos comuns, que tornem a Sociedade mais justa, pacífica, fraterna, onde haja pão, habitação, trabalho, igualdade de oportunidades para todos.

 3 – Qual é o partido dos espíritas?
O espírita é o adepto da doutrina espírita (ciência, filosofia e moral), que os Espíritos trouxeram à Terra, através de inúmeros médiuns e, codificada por Allan Kardec.
Nesse sentido, os espíritas têm como programa político (para a cidade-Estado, para a comunidade, Sociedade) a mensagem ético-moral que Jesus de Nazaré deixou há dois mil anos, modernamente explicada em “O Livro dos Espíritos” (de A. Kardec).
Podemos dizer que o partido político dos espíritas é o espiritismo em si mesmo, a sua mensagem social. Nesse sentido, na Sociedade organizada pelo Homem, o espírita procurará o partido político que melhor se enquadre, em consciência, com a mensagem espírita, votando em branco no caso de nenhum partido político ter as bases da filosofia espírita. O espírita consciente, fará tudo para que os governantes se preocupem em aproximar-se da ideia espírita, na simples quão profunda assertiva do “não faças ao próximo o que não desejas para ti”.
Não faz sentido ser-se espírita e votar em partidos essencialmente materialistas, que anelam por uma Sociedade oposta àquilo que o espiritismo defende, pugna.
A essência filosófica do espírita está no Espiritismo.
O partido político que eventualmente escolha, nas eleições, é quando muito, pequena aproximação ao que o espírita desejaria ver implementado.
Assim sendo, não faz sentido o espírita tomar a parte pelo todo, tentar eleger pessoas e partidos que não estejam minimamente em consonância com a filosofia espírita.
O oposto, sim, deve ser o desiderato do espírita, tentar que os partidos políticos apliquem as posições sociais (as leis morais) que Kardec apresenta em “O Livro dos Espíritos”.

 4 – Os espíritas e as questões fraturantes.
O espírita, para o ser, precisa de ler a obra de Allan Kardec (mais de 20 livros), estudar essa obra e tentar colocar em prática no quotidiano. Mesmo assim, arrisca-se a não atingir o seu entendimento ideal, pois tal depende do estudo contínuo, em grupo, com pessoas díspares, bem como da capacidade de entendimento de cada um.
Se um espírita estudar com seriedade o Espiritismo, mesmo que existam questões fraturantes na Sociedade (como o suicídio, aborto, pena de morte, eutanásia, etc), essas questões jamais poderão ser motivo de questiúnculas entre os espíritas, pois que estando o Espiritismo bem documentado, bem codificado, facilmente se consegue enquadrar o pensamento espírita, de modo a ter uma opinião assente não só na doutrina deixada por Kardec, como também no bom senso, na caridade, na tolerância, na indulgência.
Jamais a obra de Kardec pode ser objecto de estudo selectivo, como os sofismas, procurando uma resposta que nos dê jeito, de modo a que o nosso pensamento limitado seja aceite pelos demais.
Jamais a obra de Kardec pode ser analisada como as Testemunhas de Jeová fazem com os textos considerados como divinos, analisando o sentido literal do que está escrito.
Quem estuda Espiritismo não pode ter uma postura censória, fanática, literal, sofista, agressiva, inquisitorial, perante os graves problemas sociais acima referidos.
Tentando imaginar o que Jesus faria no nosso lugar, o posicionamento espírita deve ser a aplicação do Espiritismo legado por A. Kardec, cujo lema é “Fora da caridade não há salvação”.
Se um espírita entrasse em choque com outro espírita, por ter opinião diferente na interpretação dos factos, à luz do espiritismo, tal situação seria uma boa oportunidade para recomeçar o estudo da doutrina espírita, reestudando “O Livro dos Espíritos” e por aí fora.

5 – O Espiritismo e os espíritas.
O Espiritismo é uma filosofia de vida, bem definida.
Os espíritas são os adeptos dessa ideia.
Ora, estando todos nós em níveis de entendimento diferentes, é normal que tenhamos visões de profundidade diferentes.
Assim sendo, encante-se com o espiritismo e não connosco, os espíritas.
Desencante-se com os espíritas, se for motivo disso, mas nunca se desencante com a doutrina espírita.
Esta situação é perfeitamente normal, pois o Espiritismo tem 163 anos (em 2020), e nós, seres humanos, vivemos há milénios, habituados a seguir um líder, um padre, um guru.
Agora, sendo adeptos do Espiritismo, vemo-nos perdidos, sem saber como pensar e agir, sem a presença de um líder que nos diga como fazer.
No entanto, esse estado de alma deriva da invigilância dos espíritas, pois o seu líder é Jesus de Nazaré e, o como agir podemos encontrar sem margem para falhas, orientações preciosas no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” no texto (entre outros) “O Homem de bem”.
Sendo os espíritas livres pensadores, aos poucos iremos aprendendo a pensar pela própria cabeça, sem que isso nos traga os naturais dissabores e dificuldades de agora, nesse exercício difícil de viver sem orientação do guru, líder, padre, etc…

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agosto 22, 2020
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Comentários

  1. "Não fazer sentido ser-se espírita e votar num partido essencialmente materialista"_ não é razoável nem aceitável. Um partido pode bem ser materialista com programas e ideologia mais favoráveis ao bem comum do que outro, encostado às igrejas. O espírita, se for mesmo espírita e não prosélito espírita, tem liberdade e idoneidade de pensamento para avaliar, sem tutelas mentais de dentro ou de fora da sua doutrina.

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  2. Caro João,

    Tem toda a razão no que diz, com o qual concordo em absoluto.
    Quando refiro "Não fazer sentido ser-se espírita e votar num partido essencialmente materialista", temos de analisar dentro do contexto do texto todo.

    O texto foi truncado, pois na sua versão completa é:
    "Não faz sentido ser-se espírita e votar em partidos essencialmente materialistas, que anelam por uma Sociedade oposta àquilo que o espiritismo defende, pugna."

    Ora, assim sendo, tendo em conta o objectivo comum anelado, sendo diferente do que o espiritismo preconiza, a afirmação já faz sentido.

    Faço um estudo comparado entre a essência da ideia espírita (global) e a essência dos projectos partidários, de partidos que sejam contra aquilo que é a base do espiritismo - respeito pelos direitos do Homem, a posição sobre o aborto, eutanásia, pena de morte bem como o modus operandi..."

    Obviamente que cada cidadão e cada espírita, por consequência, fará o que bem entender. Nunca me passou pela cabeça algum tipo de tutela mental, mas apenas dar a minha opinião (minha) acerca de um assunto em que os espíritas metem a cabeça debaixo da areia, por ser mais cómodo não falar do que expor-se.
    Obgd pela sua observação :-)

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