Estava bem vestido
Fato completo
O caixão colorido
Como estava bem
C’a minha consciência
Fui convidado a ir
à última residência
Amigos espirituais
Me acompanharam
Nos últimos momentos
Onde me aclamaram
Sorridente e feliz
Por largar a carcaça
Estranhava a tristeza
De toda a minha raça
Do sincero ao fingido,
De tudo encontrei
Os que choravam sem chorar
E os que cumpriam a “lei”
Flores e mais flores,
Choros e abraços
Faziam parte do folclore
Com muitos “palhaços”
Sinceros, contei poucos,
A esposa e mais cinco,
Os outros não viam a hora
De ver o caixão c’o trinco
Tanta opulência
E muita vaidade
Só porque era conhecido
Na falsa sociedade
O padre, com ar triste,
Cumpria o seu ritual
Simulando tristeza
Só queria o pilim final
Só aí compreendi
Como somos vulneráveis
Não conseguimos esconder
Os desejos condenáveis
Tranquilo e feliz
Por ter mudado de plano
Via aquela gente-actriz
Em doloroso engano
Aprendi depois de morrer
Que não sabemos ajudar
Aquele que morreu,
E que vai a enterrar
Espiritualistas, vários,
Portamo-nos como irracionais
Fazendo da cerimónia
Uma festa entre os demais
Da anedota chula,
Ao “corte na casaca”
Tudo eu ouvia
Naquela grande ressaca
Amigos, poucos,
Por mim oravam,
Outros, na memória,
O bem, imploravam.
No fim, dei um beijo
À esposa e familiares,
E logo parti
C’os meus auxiliares.
Se queres bom funeral,
Que seja pequeno e discreto
Leva vida correta,
Pois a vida é livro aberto
Enquanto estiveres aí
E fores aos funerais
Fá-lo com sentimento
Não sejas com’os demais
Poeta alegre
Psicografia
recebida por JC, Óbidos, Portugal, em 2014-02-10
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março 12, 2014
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