Espíritas tristes...?


O telefone tocou, o número era desconhecido. Lá o atendi no meio de meia dúzia de papeis, dizendo aquilo que não sentia, que não incomodava, quando de facto estava assoberbado de trabalho. Nutria a esperança de um telefonema rápido. Era um senhor de Lisboa, católico praticante. Tinha entrado na página da Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal (ADEP), na Internet, e vira lá o meu nº de telefone. Já lera muita coisa sobre reencarnação. Esse conceito falava-lhe alto no íntimo, embora o catolicismo o negue. Seguiu a sua consciência, precisava saber mais. Assim de momento, tinha em mente o nome de dois centros espíritas de Lisboa, remetendo-o para a página da ADEP na Internet, onde existem outros endereços. Ao referir o nome de um deles, o meu interlocutor atalhou: «Sabe? Vou confessar-lhe uma coisa, mas não leve a mal! Um dia passei em frente a esse centro espírita que me falou, e estive tentado a entrar mas, ao chegar à porta, vi as pessoas que lá estavam, com uma cara tão triste que pensei: isto não é para mim, eu quero é alegria.» O senhor poderia indicar-me um centro que fosse mais alegre?
Confesso que engoli em seco...
Uns tempos antes, estávamos numa conferência pública, no centro onde colaboramos, nas Caldas da Rainha, no Centro de Cultura Espírita. O palestrante, Mário Correia, professor de profissão, fez brilhante conferência espírita que nos deleitou a todos, mesmo àqueles que já conhecemos a Doutrina Espírita (ou Espiritismo), utilizando não só os seus vastos conhecimentos, como um requintado espírito de humor que deixou boa disposição e alegria no ar. No fim da palestra, no meio de uma troca de impressões que geralmente acontece entre os presentes, dentro de um ambiente alegre e sadio, um senhor, nosso desconhecido, aproximou-se do palestrante dizendo: «Sabe, eu também sou palestrante espírita, num centro espírita em Lisboa. Estou aqui de férias, pois como é Verão costumo vir até aqui, e quis conhecer o vosso centro, mas vou desiludido». Mário Correia, na sua simplicidade, lá o ouviu, procurando assim melhorar o seu desempenho no futuro. E o nosso visitante, espírita, palestrante e dirigente de um centro espírita da capital, lá continuou: «Sabe, nós dirigentes e palestrantes, devemos falar e orar de modo a levar as pessoas às lágrimas, comovê-las até elas chorarem, e aqui não vi nada disso. Onde já se viu contar histórias numa palestra e pôr as pessoas a rir? Isto é um local sério. Nunca mais cá volto, confesso a minha desilusão.»
E nunca mais voltou...

O Centro Espírita, não precisa de toalhas brancas rendadas nas mesas,
a imitar os altares das igrejas, não precisa de fotografias na paredes,
de espíritas de referência, a imitar os santos das igrejas.

Léon Denis, o célebre filósofo espírita francês, referiu com muita propriedade que, uma coisa é o Espiritismo, na sua grandiosidade como ciência, filosofia e moral, e outra coisa são os movimentos espíritas, aquilo que os homens fazem do espiritismo.
Fiquei a meditar: e se eu me interessasse pelo espiritismo e entrasse no centro triste ou no centro onde saísse lavado em lágrimas de tanta emoção? Certamente, se fosse mais desatento, não voltaria a interessar-me pelo assunto.
Urge pois, conforme lembrava e muito bem Herculano Pires, despir a prática espírita dos atavismos que trazemos do passado, quer de vidas anteriores onde militámos em religiões tradicionais, quer desta vida onde vivenciámos práticas com rituais nessas mesmas religiões. O Centro Espírita, não precisa de toalhas brancas rendadas nas mesas, a imitar os altares das igrejas, não precisa de fotografias na paredes de espíritas de referência, a imitar os santos das igrejas.
O Centro Espírita, é um local onde a simplicidade contagiante da sua mensagem deve extravasar para o local, simples, acolhedor, onde a mensagem de optimismo, alegria, esclarecimento e consolo, não se coaduna com uma postura de reverência ao sofrimento. Não existem espiritismo triste, embora alguns espíritas o possam ser, por ainda não terem conseguido assimilar a alegria, dinamismo, optimismo e força que é característica da Doutrina Espírita.

Artigos diversos
agosto 09, 2010
7

Comentários

  1. Olá Lucas!

    Sem dúvida, escolho o centro onde se ouve uma boa gargalhada.

    Não há nada que me deixe mais feliz do que ver pessoas felizes e bem dispostas.

    Tristeza temos nós que chegue no dia a dia, pois os tempos são de dificuldades,

    Não é por isso que o centro deixa de transmitir a Doutrina em toda sua seriedade,
    Muitas vezes as pessoas se dirigem ao centro porque tem grandes problemas ou tristezas, o riso é uma óptima terapia e uma ou outra gargalhada durante uma palestra, não vai tirar nada a mensagem nem aos ensinamentos, pelo contrario, muitas vezes recordamos melhor que uma palestra monótona onde adormecemos.

    Abraço

    joana

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  2. Olá Lucas!

    Concordo plenamente uma boa risada faz a diferença.

    Nas minhas férias tive uma má experiencia ao visitar outro Centro Espirita para ouvir a palestra, o tema era bastante interessante como anuciava na porta, mas não sei se era do calor, do altar ou do ambiente triste passei uma hora muito aborrecida e sem me concentrar no tema.
    Assim não se consegue transmitir a verdadeira filosofia espirita. Gosto muito das palestras efectuadas no Centro Espirita das Caldas, é o centro com o qual me identifico.


    Abraço

    Alice

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  3. Tristesas realmente não pagam as dívidas... dívidas que acumulamos do passado... Fico bastante agradado eu que até sou um desses espíritas que ainda não consegue andar alegre e feliz todo o tempo com os belos gracejos que no meio das palestras os comunicadores espíritas nos contam... nada como uma boa gargalhada para descomprimir de um assunto sério. Ainda estudo e também muioto me agrada no meio das matérias expositivas os meus professores "sacarem" de uma boa anedota para limpar o ambiente sério em que muitas vezes nos mergulhamos... há pessoas que confundem bom animo e alegria com ao gozo que alguns fazem contando anedotas de calibre chulo deseducado e gozão... a alegria é um sentimento nobre e para combater a tristeza depressiva e neurótica nada como o sorriso e o riso... temos que ser mas é mais positivos em todos os quadrantes da nossa vida, na fé que praticamos, no trabalho que fazemos no convívio que temos...
    Força amigo continua a tua alegre e feliz divulgação da da doutrina
    Saudações espíritas
    MCosta

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  4. olá Lucas

    Só de sabermos que a morte não existe e o espirito sobrevive após a morte do corpo fisico, já é motivo para andarmos sempre felizes.
    o centro espirita é um lugar de estudos bem sérios no entanto se estivermos tristes o que é que transmitimos ao lado de lá, naturalmente tristeza e penso que é nossa obrigação através da prece do recurso da mediunidade e até através dos nossos actos com todo o respeito pelo nosso próximo enviar alegria, paz e uma mensagem de esperança oas entes que mais sofrem e quiça com muito humor sem vilipendiar os propositos cristãos do espiritismo, portanto haja alegria e bom humor nas palestras.

    Vitor

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  5. É por isso que eu sempre gostei do Chico...pq ele levava o seu trabalho a sério, mas com muito bom humor.

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  6. Olá Lucas!

    Continua assim,gosto muito das tuas palestras.
    Frequento o centro já a alguns anos,e continuo a gostar.

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