Aquela 3ª feira era mais um dia de azáfama. O
médico, psiquiatra, despediu-se dos filhos, do cônjuge e rumou apressadamente
ao Hospital onde presta serviço. Enquanto trincava à pressa uma bucha de pão,
no meio do trânsito loucamente normal de Lisboa e arredores, ia ouvindo as
notícias, com aquele ar de quem já não ouve nada. Desligou o rádio. Ideias
saltitantes iam de galho em galho, nos milhões de neurónios cerebrais: contas à
vida, o futuro dos progenitores, o dia de amanhã entre outras questões
existenciais.
Após o matinal
musichall das buzinas rodoviárias, lá
chegou ao parque de estacionamento do Hospital.
Um café bem
forte vinha mesmo a calhar.
Chegado às
urgências, um enfermeiro atirou-lhe de repente: “doutor, hoje de manhã já ali estão 3 para si”.
Ele parou,
sentou-se à secretária, e enquanto nos escaninhos da mente se questionava por
onde andaria o seu pai falecido (agora no mundo espiritual), ia dando uma
vista de olhos pelos processos. Pegou no microfone de chamada, ligou-o e, chamou
o doente nº 1, num gesto já ritualizado.
Batem à porta,
à qual responde: “pode entrar”!
Um jovem,
franzino, adentra o consultório, ar cabisbaixo e, como que a sondar todos os
cantos do espaço físico, não fosse haver ali alguma ameaça. Afinal, não era um
consultório qualquer, era um consultório de um psiquiatra, num Hospital do
Estado (nada fiável, pensava ele).
O médico,
espírita, após as suas orações antes do trabalho no Hospital, onde solicitara o
amparo dos bons espíritos e a lucidez e discernimento para poder ser útil
naquele dia, olhou com ternura o jovem, pensando: “podia ser meu filho”.
Entre dente
disse: “sente-se, esteja à vontade. O que
o trás por cá?”
No processo
inicial, já tinha havido uma triagem, que o atirava para um internamento
compulsivo em psiquiatria (ouvia vozes que mais ninguém ouvia).
O jovem, meio
a medo, lá foi contando a sua história pessoal: desde muito novo que se sentia
diferente dos demais jovens e, ultimamente, via seres que mais ninguém via e
ouvia-os, ao ponto de alguns o cumprimentarem, outros serem indiferentes e
outros, ainda, serem maldosos. Em casa, ninguém via e ouvia o que ele
percepcionava e, ali estava à espera da cura.
O médico,
psiquiatra, espírita, ouviu-o atentamente e após severo diagnóstico médico,
concluiu que ele não tinha problema algum, passando a fazer questões do foro
espiritual. Neste campo, o rapaz parecia estar à vontade e respondia com
desenvoltura ao que lhe perguntavam.
Os médicos precisam de estudar a doutrina espírita,
como nós precisamos de pão, para o dia-a-dia
O diagnóstico
foi fácil: o rapaz era médium, tinha percepção extra-sensorial.
“Doutor, é grave?”,
perguntava com ansiedade.
Seguiu-se um
longo silêncio de alguns segundos, enquanto o médico prescrevia uma receita.
Pensou com os
seus botões: “pronto lá vou eu ficar
intoxicado com drogas”.
O médico tinha
um sorriso amigo e acolhedor, o que o tranquilizou e, após acabar de rabiscar
disse-lhe: “você não tem doença nenhuma e,
não precisa de medicação; você tem um sexto-sentido que se chama mediunidade e,
precisa de aprender a lidar com ela. Sugiro-lhe esta associação espírita (onde
não há comércio nem aceitação de dinheiro) onde deve ir, expor a sua situação,
estudar e integrar-se. Depois leva uma vida normal!”
O rapaz estava
incrédulo! Nem um calmante?
“Não precisa” respondeu com bonomia o
médico, mas se precisar volte e peça para falar comigo.
O jovem
deu-lhe um abraço sentido e disse-lhe: “sabe
doutor, o Sr. é a primeira pessoa a acreditar em mim, e que eu não estou
maluco. Vou lá sim, e depois volto para lhe dizer como foi”.
E foi-se….
Ao tomar
conhecimento deste caso, fiquei alarmado: e se o rapaz desse com um psiquiatra
que não fosse espírita?
A esta hora
estava encharcado em anti-psicóticos e, quiçá internado num manicómio…
Que
responsabilidade a dos médicos!!!
Felizmente já
existem muitos médicos espíritas em Portugal, mas ainda não chegam.
Que bom que
era que a filosofia espírita fosse de estudo obrigatório nos cursos de
medicina, onde os médicos aprendessem que, ao invés de sermos um aglomerado de
células, somos um ser espiritual, temporariamente num corpo de carne, a cumprir
um desiderato ao longo da eternidade, resgatando ousadias de outras vidas, que
por agora nos trazem transtornos.
Um dia será
assim!
Portugal,
Junho 2013
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junho 19, 2013
1
Tão verdade.
ResponderEliminarJá passei por isso!