Chama-se Moacyr
Camargo e é brasileiro. Profissionalmente, é músico. Adepto da Doutrina
Espírita (que não é mais uma seita nem mais uma religião), dedica os seus
tempos livres a esta filosofia universalista. No Brasil, ajuda a dinamizar a Escola
(espírita) Eurípedes Barsanulfo, na cidade de Sacramento. Chegou a Portugal a 7
de Setembro de 2011, a convite da Associação Cultural e Beneficente Mudança
Interior (Vale de Cambra), e encerrou este périplo em Caldas da Rainha, nos dias
30 de Setembro e 1 de Outubro.
O
dinâmico Centro de Cultura Espírita desta cidade mobilizou-se para proporcionar
aos seus frequentadores mais uma palestra e um colóquio inesquecíveis. Os temas
andaram à volta da Arte e da Espiritualidade, e interessaram adeptos do
Espiritismo e pessoas de outros credos, que encheram o auditório da associação.
Na
sexta-feira à noite a palestra foi embelezada pela voz serena e pela magnífica
viola do Moacyr. O seu acervo de composições originais, todas de conteúdo intensamente
positivo e espiritual, está registado em vários discos, com orquestrações
cuidadas. O seu estilo lembra todos aqueles nomes do Brasil que nos habituámos
a ouvir na rádio, nas novelas de TV e em concertos, tais como Milton
Nascimento, Ivan Lins ou Djavan. Moacyr não lhes fica atrás.
A
religião/espiritualidade – frisou – vão deixando de ser “coisa de crianças e velhinhos”, como antigamente se usava. A
consciência da Humanidade vai-se ampliando, e a par com os tempos difíceis que
se vivem, já se sente pulsar um novo tempo de união de esforços, para combater
todos os problemas que ainda afligem a Humanidade terrena.
A
Arte sempre teve o condão de antecipar mudanças e novidades. Os pintores
flamengos do século XVII, por exemplo, manifestavam um enorme interesse pela
representação dos pormenores mais ínfimos da Natureza; e o microscópio
aparecia, anos depois. Nos nossos dias são muitos os espíritos criativos que
entrevêem uma era de novos valores morais e espirituais. Nos cantos da Terra
onde reina a paz, florescem por exemplo as obras cinematográficas que nos
apresentam versões pessoais, mas todas elas interessantes, do mundo espiritual.
Pessoas recalcitrantes ao tema, absorvidas que estão pelas lutas da vida ou pelas
ambições materiais, vão sendo assim tocadas para uma realidade nova, que se
habituaram a associar a conceitos religiosos decrépitos. Tudo se renova, sempre.
Tecnologicamente
temos "banda larga", mas no íntimo "mente estreita".
Precisamos
colocar em prática os ensinamentos de Jesus de Nazaré:
"fazer ao
próximo o que desejamos para nós".
Para
a doutrina espírita, não haverá nem apocalipse nem segunda vinda de Jesus-Cristo.
Nova vinda não haverá porque Jesus não nos deixou jamais, e em vez de um
apocalipse de catástrofe e destruição, o que já se verifica é uma saudável
crise de crescimento, que prenuncia tempos melhores. Moacyr
fez notar que de tempos a tempos nascem na Terra homens e mulheres como Jesus de Nazaré, Ghandi, Madre Teresa, Francisco de Assis, Irmã Dulce, e tantos outros, materialmente pobres,
ricos de amor ao próximo, que exemplificam essa doação, que nem sistemas
religiosos nem políticos ainda lograram atingir, e que se pede aos seres
humanos. Falta cumprir-se o Cristianismo, na sua acepção mais ampla e
universal. Na Espiritualidade, nas Ciências, nas tecnologias, nas Artes, há
espíritos missionários que impulsionam o progresso da Ideias.
Moacyr
chamou a atenção para a possibilidade que todos temos de seleccionar as nossas
leituras, os espectáculos a que assistimos, as manifestações de criatividade de
que desfrutamos, e que esses alimentos da alma contribuem para a nossa saúde
espiritual, tal como acontece com os alimentos do corpo. Espiritualmente
amadurecida, a Humanidade de hoje depende de Deus e de si mesma, é capaz de
pensar por si em vez de se deixar simplesmente conduzir, de forma acrítica. Notava
o filósofo espírita Leon Denis que
os passarinhos, em tempos de frio e fome, se unem e ajudam mutuamente, ao passo
que em tempos mais amenos e de abundância, estalam escaramuças e é “cada um por
si”. Com cérebros bem maiores do que os dos passarinhos (que, não obstante, se
prodigalizam tocantes manifestações de afecto), está ao alcance da Humanidade
de hoje respeitar diferenças, banir hostilidades, enterrar egoísmos, e,
acicatada pelas dificuldades, caminhar definitivamente para uma era de paz,
prosperidade e entendimento.
Disse
este palestrante brasileiro referindo-se às novas tecnologias, que não podemos
continuar a ter “banda larga e mente estreita”. Temos capacidade de fazer muito
mais e melhor. Foi essa, em suma, a mensagem do colóquio de sábado, que marcou
as últimas horas desta estada de Moacyr Camargo em terras lusas. Levou com ele
aplausos carinhosos, um belo ramo de rosas, e a gratidão dos que o foram
escutar, nestes dias de Verão tardio. Foram momentos de suave partilha, com a
simplicidade da Doutrina Espírita, que é fé raciocinada e prescinde de aparatos
e manifestações ruidosas.
Mário Correia
Artigos relacionados
Reportagens
outubro 02, 2011
0
Comentários
Enviar um comentário